24/03/2015 01:04

ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES AO DEBATE ATUAL

 

Tivemos no ano passado uma das eleições mais disputadas da história recente do Brasil, onde basicamente dois projetos se confrontaram em discussões acirradas em programas eleitorais, debates entre candidatos e conversas acaloradas entre eleitores. O projeto popular-democrático defendido por Dilma foi reeleito, a eleição chegou ao fim, mas o clima de disputa permaneceu. De início, houve ameaça de não aprovação das contas da candidata; pedido de recontagem dos votos e até questionamentos sobre a lisura do processo de votação através das urnas eletrônicas. Depois da posse da presidente o embate continuou, agora nas críticas às medidas anunciadas para o ajuste econômico e em torno das denúncias de corrupção da Operação Lava-jato. Todo esse processo foi bastante apoiado e alimentado pela grande mídia, que não consegue esconder suas preferências político-partidárias. Estamos no terceiro turno das eleições.

Fazer oposição ao governo é legítimo. Protestar contra aumento de tributos e preço dos combustíveis é perfeitamente aceitável. Discordar das medidas de ajuste da economia é democrático. Agora, se queremos, de fato, um país desenvolvido, democrático, garantidor de direitos e que seja capaz de promover mais oportunidades para todos, temos que ir com calma, sob pena de perdermos grandes conquistas das últimas décadas, que vão desde a estabilidade econômica, passando pelas políticas que geraram empregos, distribuíram renda e tiraram milhões da pobreza extrema, até a própria existência de nossa democracia resgatada à duras penas. Digo isso, porque a reação conservadora e golpista mostrou a cara nas manifestações de rua no último dia 15 de março.

O número de pessoas nos protestos foi expressivo, em que pese a Globo ter inflacionado a contagem alegando ter tido um milhão na Avenida Paulista, enquanto o insuspeito Datafolha reduzia a 210 mil. Os manifestantes, de trajes verde-amarelos, tinham focos difusos expressos em faixas e cartazes. Mas o tom maior era a oposição ao governo Dilma. Até aqui, tudo bem. O que não se pode aceitar, contudo, é o pedido de impeachment da presidente, que acabou de ser reeleita e sobre quem não pesa nenhuma acusação prevista na Constituição para seu afastamento pelo Congresso, e as reivindicações de intervenção militar. Isso não.  

Infelizmente, o que não se vê neste cenário por parte dos opositores ao governo é a disposição em debater saídas para a crise. A oposição não tem proposta de um programa político-econômico alternativo ao dos governos petistas. Parece que sua única proposta para resolver todos os problemas da Nação é a saída da presidente. Mas, diante dessa impossibilidade, sem alternativas, tornou a corrupção o centro dos problemas.

Pois bem, então, que tal aproveitarmos esse momento de crise para passarmos a limpo a política brasileira? Tenho visto que, aqueles que apontam o dedo para o PT têm quatro dedos voltados para si mesmos. Ou seja, quem acusa os petistas de corrupção também são acusados do mesmo crime. Isso me parece hipocrisia das grandes. Quero deixar claro que sou absolutamente a favor da apuração de todas as denúncias envolvendo os petistas em corrupção, mas não posso aceitar a criminalização do partido, sendo que há acusações graves envolvendo outros partidos e políticos que posam de inocentes e paladinos da moralidade. Ou se passa a limpo tudo ou seremos obrigados a acreditar que o que se quer mesmo é a condenação de um programa de governo, que elegeu os pobres como prioridade.

Este cenário difícil que estamos enfrentando tem que nos levar a refletir sobre as causas da corrupção e, neste sentido, não podemos fugir do debate sobre nosso sistema político-eleitoral. E aí, a discussão sobre a reforma política é inadiável. Mas fiquemos atentos, pois muitos falam agora em reforma política e, no fundo, não querem mudar o que de fato precisa ser mudado, ou seja, se não se mexer no principal, que é o financiamento privado de campanha, podemos esquecer, tudo ficará como antes. A corrupção na política começa na campanha eleitoral. As empresas prestadoras de serviço para os governos superfaturam as obras e depois financiam os candidatos, apostando que, uma vez eleitos, fraudem as licitações para beneficiá-los. Ou alguém acha que uma empresa investe milhões numa candidatura porque gosta das propostas de governo do candidato?

Agora, se entendermos que o caminho para a moralização da política começa com uma reforma política ampla e estrutural, temos que ter consciência que o caminho a percorrer será difícil, pois quem vai votá-la não quer saber de mudanças significativas nas atuais regras do jogo, que sempre os beneficiaram. Talvez o melhor caminho, neste caso, seja o das ruas. Aí sim, deixando para trás aqueles que querem o retrocesso, que desrespeitam a democracia e propõem rasgar a Constituição, vamos em frente reivindicar o fim da corrupção, punição aos culpados e reforma política que resgate a representatividade dos partidos e dos políticos, com o fim da ditadura do poder econômico nas campanhas eleitorais. Que venha um novo tempo!

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Pedro Kemp In Blog